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Rômulo P. Scorza Júnior & Renê L. O. Rigitano
R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.16, n.5, p.564–572, 2012.
1
Embrapa Agropecuária Oeste, CP 661, CEP 79804-970, Dourados, MS. Fone: (67) 3416-9772. E-mail: romu
lo@cpao.embrapa.br
2
DEN/UFLA, CP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. Fone: (35) 3829-1274. E-mail: rigitano@ufla.br
Sorção, degradação e lixiviação do inseticida
tiametoxam em dois solos de Mato Grosso do Sul
Rômulo P. Scorza Júnior
1
& Renê L. O. Rigitano
2
R ESU M O
Informações sobre o comportamento ambiental de agrotóxicos são necessárias para a avaliação de sua
periculosidade ambiental. Objetivou-se, neste trabalho, determinar a sorção e a degradação do inseti
cida
tiametoxam em duas profundidades (0-30 e 50-70 cm) de dois solos agrícolas do Mato Grosso do Sul, e
avaliar sua lixiviação e dissipação no campo. Perfis de concentração do tiametoxam foram determinado
s
até 100 cm de profundidade durante o período de 2007, 2008 e 2009. Os baixos valores da constante
de equilíbrio de Freundlich obtidos para o tiametoxam mostram, em ambos os solos e profundidades,
sua baixa afinidade pela fase sólida dos solos. A degradação do tiametoxam revelou-se bastante lenta
,
nos dois solos e profundidades, com valores de meia-vida entre 96 e 618 dias. Já no campo, observou-
se uma rápida dissipação do tiametoxam, logo após a aplicação. A lixiviação do tiametoxam ficou
restrita aos 50 cm de profundidade para ambos os solos, indicando baixo potencial de contaminação da
água subterrânea nos solos estudados.
Palavras-chave
: comportamento ambiental, agrotóxicos, dissipação
Sorption, degradation and leaching of the insecticide
thiamethoxam in two soils of Mato Grosso do Sul
A B ST R A C T
Information about environmental behaviour of pesticides is needed to assess their risks. This work h
ad
the aim to determine sorption and degradation of the insecticide thiamethoxam in two depths (0-30 an
d
50-70 cm) of two agricultural soils in the State Mato Grosso do Sul, Brazil, as well as to evaluate
its
leaching and dissipation in the field. Thiamethoxam concentration profiles until 100 cm depth were
obtained during the period of 2007, 2008 and 2009. The low values of Freundlich coefficient for
equilibrium of thiamethoxam for both soils and depths show its low affinity with the soil solid phas
e.
Thiamethoxam degradation in both soils and depths was quite slow, with half-lives between 96 and 618
days. In the field, a fast thiamethoxam dissipation was observed just after application. Thiamethoxa
m
leaching was restricted to 50 cm depth, indicating low potential to contaminate groundwater in the
studied soils.
Key words
: environmental behaviour, pesticides, dissipation
Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental
v.16, n.5, p.564–572, 2012
Campina Grande, PB, UAEA/UFCG – http://www.agriambi.com.br
Protocolo 159.11 – 22/07/2011 • Aprovado em 23/02/2012
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Sorção, degradação e lixiviação do inseticida tiametoxam em dois solos de Mato Grosso do Sul
R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.16, n.5, p.564–572, 2012.
I
NTRODUÇÃO
Comumente, os agrotóxicos são aplicados diretamente no
solo ou sobre as plantas. Mesmo quando aplicados sobre as
plantas, parte significativa da dose aplicada acaba chegando
ao solo (Chaim et al., 1999) ficando sujeitos à ação de diversos
processos que governam seu comportamento ambiental. O
conhecimento do destino ambiental dos agrotóxicos é essencial
no processo de avaliação do risco de sua periculosidade
ambiental. Assim, torna-se de fundamental importância o
conhecimento dos processos envolvidos na interação dos
agrotóxicos com o solo, com o objetivo de minimizar os efeitos
negativos que seu uso possa causar ao meio ambiente e,
sobremaneira, aos recursos hídricos (Bergström et al., 2011;
Pinheiro et al., 2011). Os principais processos responsáveis
pelo destino ambiental de agrotóxicos no solo são a sorção, a
degradação, o escoamento superficial e a lixiviação (Scorza
Júnior, 2006).
O tiametoxam (3-(2-cloro-tiazol-5-ilmetil)-5-metil-[1,3,5]
oxadiazinan-4-ilideno-N-nitroamina) é um inseticida sistêmico
do grupo dos neonicotinóides, utilizado para o controle de
pragas nas culturas de café, soja, cana-de-açúcar, citros e outras,
por meio de pulverização sobre as folhas, incorporação ao solo
e tratamento de sementes (Andrei, 2005). Devido às suas
características físico-químicas (baixa sorção ao solo e elevada
solubilidade em água), o tiametoxam apresenta alto potencial
de contaminação ambiental, principalmente por meio de
lixiviação (Banerjee et al., 2008). Alguns estudos sobre a
degradação, sorção e lixiviação do tiametoxam nas condições
edafoclimáticas brasileiras, foram realizados mostrando alta
persistência e intensa lixiviação nos solos. Urzedo et al. (2006a,b)
estudaram a sorção e degradação do tiametoxam em solos da
região de Lavras, MG, e constataram que este foi fracamente
adsorvido no solo, além de apresentar alta persistência, com
valores de meia-vida entre 117 a 301 dias. Castro et al. (2008)
estudaram a lixiviação do tiametoxam durante dois anos em um
Latossolo Vermelho Acriférrico típico e em um Argissolo
Vermelho Amarelo Distrófico na região de Lavras, MG, utilizando
lisímetros no campo, sem vegetação e com aplicação no início
do período chuvoso. Como resultados, observaram uma intensa
lixiviação nos dois solos avaliados, com valores de resíduos
lixiviados entre 17,8 e 56,7% da dose aplicada abaixo de 0,45 m
e entre 0,17 e 12,6% abaixo de 1,8 m de profundidade.
Estudos sobre o comportamento ambiental do tiametoxam
nas condições brasileiras foram realizados em laboratório e
lisímetros. Estudos em condições de campo devem ser
preferidos aos de laboratório, em virtude (i) da maior semelhança
às condições ambientais em que serão usados; (ii) da
possibilidade de se inserir o componente planta na avaliação e
(iii) integração dos processos de lixiviação e degradação que,
em geral, são estudados separadamente nos estudos de
laboratório. Com relação às vantagens de estudos de lixiviação
a campo tem-se, quando comparados aos de lisímetros, a
possibilidade de r ealizar amostragens dos per fis de
concentração do solo, monitorar os resíduos de agrotóxicos
na água subterrânea e evitar efeitos de borda como, por
exemplo, o transporte preferencial de agrotóxicos nas paredes
dos lisímetros (Verschoor et al., 2002).
Este trabalho teve como objetivos avaliar a sorção e
degradação do inseticida tiametoxam em duas profundidades
de um Latossolo Vermelho Distroférrico típico de textura muito
argilosa e um Latossolo Vermelho Distrófico típico de textura
média em Mato Grosso do Sul, e avaliar a lixiviação e dissipação
em con dições de campo. Essas in for mações sobr e o
comportamento ambiental do tiametoxam nas condições
edafoclimáticas avaliadas, são de grande importância para
avaliação do potencial de contaminação dos recursos hídricos,
sobretudo a água subterrânea; mais ainda, essas informações
poderão ser usadas para o teste de simuladores de lixiviação
de agrotóxicos em solos brasileiros. Atualmente, esses
simuladores são ferramentas importantes na avaliação da
periculosidade ambiental de agrotóxicos nos EUA (Farenhorst
et al., 2009) e na Comunidade Europeia (Boesten, 2007) e
poderão ser usados em breve pelas autoridades brasileiras.
M
A
TERIAL
E
MÉT
ODOS
Os experimentos de lixiviação foram realizados em duas áreas
experimentais de 900 m
2
(30 x 30 m) da Embrapa Agropecuária
Oeste, localizadas nos municípios de Dourados (22° 16’ 26" S;
54° 48’ 50" O) e Ponta Porã, MS (22° 33’ 13" S; 55° 38’ 53" O).
Cada área experimental foi dividida em quatro quadrantes cada
uma contendo 25 subparcelas de 9 m
2
(3 x 3 m). O solo da área
em Dourados é classificado como Latossolo Vermelho
Distroférrico típico de textura muito argilosa e o de Ponta Porã
como Latossolo Vermelho Distrófico típico de textura média
(Santos et al., 2006). Os atributos químicos e físicos das
diferentes camadas dos solos são mostrados na Tabela 1. O
período experimental compreendeu de 21/11/2007 a 8/5/2008
na área de Dourados e de 19/12/2008 a 23/4/2009 na área de
Ponta Porã. Em ambas as áreas foi utilizada a cultivar de soja
BRS 240, com datas de plantio em 21/11/2007 para Dourados e
11/12/2008 para Ponta Porã. A aplicação do tiametoxam ocorreu
no dia 04/12/2007 em Dourados e no dia 19/12/2008 em Ponta
Porã, utilizando-se uma dose equivalente a 282 g i. a. ha
-1
de
tiametoxam, em ambas as áreas. Para aplicação, utilizou-se um
pulverizador acoplado ao trator com uma barra de 14 m e bicos
do tipo leque (Jacto
®
AXI-TDIN 120-03) espaçados 50 cm,
sendo
a vazão de 280 L ha
-1
na área de Dourados e de 320 L ha
-1
na área
de Ponta Porã. Amostras de solo nas profundidades de 0-10,
10-30, 30-50, 50-70 e 70-100 cm foram coletadas para
determinação dos resíduos de tiametoxam em ambas as áreas.
Inicialmente, 20 amostras de solo (0-5 cm) foram coletadas ao
acaso em cada área experimental, logo após aplicação do
tiametoxam, para determinação da quantidade aplicada. Na área
de Dourados as datas de amostragem foram 0, 15, 73 e 156 dias
após aplicação e em Ponta Porã de 0, 41, 74 e 125 dias após a
aplicação. Em cada data de amostragem quatro subparcelas
(uma de cada quadrante) foram sorteadas para coleta das
amostras, que consistiu na abertura de trincheiras até a
profundidade de 1 m. Amostras com aproximadamente 200 g de
solo foram retiradas de cada profundidade e colocadas em
sacos plásticos para armazenamento em freezer a -20 °C, até o
momento da análise.